O Arquivo
Público de São Paulo, no final de março deste ano, passou a disponibilizar em
seu site cerca de um milhão de documentos sobre as ações da ditadura militar
naquele Estado.
Fichas e
prontuários que antes só podiam ser acessados pessoalmente, agora estão ao
alcance de um clique.
Os
documentos são papéis do Dops – Departamento de Ordem Política e Social, órgão
que funcionou de 1924 a 1983 e foi um dos principais braços do Estado Novo e da Ditadura Militar, destinado a prevenir e
reprimir os delitos contra a segurança do Estado.
Com a volta
do país ao caminho democrático, os Dops, subordinados às Secretarias de
Segurança dos Estados, começaram a ser desativados e os documentos entregues aos Arquivos Públicos.
Em 1991, no
governo Edson Lobão, o Arquivo Público do Maranhão recebeu toda documentação que se encontrava nos
depósitos da Secretaria de Segurança estadual.
Durante algum
tempo, esses documentos ficaram nas
prateleiras do Arquivo Público, sem que
os pesquisadores pudessem vê-los e manuseá-los, pois estavam desorganizados e dispostos ao arrepio das rotinas técnicas.
Só a partir
de 1997, no governo Roseana Sarney, aquela ruma de papéis, que parecia
imprestável, passou a ser tratada pelo
corpo técnico do Arquivo Público.
Coube às
técnicas Maria Helena Espínola e Conceição Rios a incumbência de organizá-los
cientificamente, tendo em vista que estavam mofando e à espera de mãos especializadas, que
pudessem dar-lhes um destino adequado.
Por conta do
Projeto Memórias Reveladas, a Casa Civil da Presidência da República e o Arquivo Público Nacional criaram um banco
de dados contendo informações dos arquivos participantes e colocar à disposição
do público, pela internet, os registros documentais sobes as lutas políticas no
Brasil durante a ditadura militar.
O Arquivo
Público do Maranhão, como instituição que cuida, zela e preserva a documentação
oficial do Estado, integrou-se ao Projeto Memórias Reveladas, por meio do qual
organizou e colocou à disposição de pesquisadores e interessados fichas,
dossiês, panfletos, recortes de jornais do período militar.
São centenas
de documentos que agora podem ser consultados e manuseados, mas, por falta de
recursos, ainda não foram digitalizados, impedindo-os de serem acessados pela internet.
Eram nos
arquivos do Dops que as informações sobre as atividades e ações desenvolvidas
pelos políticos maranhenses, antes e na vigência do regime militar, estavam armazenados. Através deles, os órgãos de segurança do país
se alimentavam, dentre os quais o SNI, servindo-se dos mesmos para colocar sob
suspeita os que não rezavam na cartilha do movimento de 1964.
Eu, por
exemplo, fui cassado pela Assembleia Legislativa, em abril de 1964, sendo acusado
levianamente de desenvolver atividades subversivas. Por isso, tinha uma vontade
indômita de saber o que pensava o Dops a meu respeito e como via o meu
comportamento político, em relação aos atos e fatos, que me levaram a perder o
mandato, que recebi do povo de minha terra – Itapecuru, nas eleições de outubro
de 1962.
Durante
anos, esperei pelo momento de ter em mãos, para guardá-lo como relíquia, a
documentação em que as autoridades policiais do Maranhão registraram as ações
por mim praticadas, que considero todas democráticas e inerentes ao desempenho
livre do mandato popular.
Quase 50
anos depois, finalmente, pude ver, sem subterfúgios e medo, aquele documento,
que esperava, pelo menos, estar bem concatenado, com informações precisas e
perto da realidade. Ao contrário disso, o que vi e li em duas folhas de papel
foi um relato sintético, sem maiores fundamentações e longe de ser uma peça
básica para servir de avaliação da atuação política de cidadãos corretos e
idôneos.
Graças à
minha amiga Conceição Rios, que dirige com eficiência, correção e dedicação o
Arquivo Público do Maranhão, chegou ao meu poder, depois de longo e tenebroso
inverno, a ficha que o Dops imaginou retratar o meu perfil de homo politicus.
Numa folha,
estão os meus dados pessoais e profissionais. Em outra, sem assinatura de quem
a lavrou ou do chefe do Dops, o que abaixo foi registrado ao meu respeito: Bacharel em Direito. Jornalista. Alto
funcionário da Sudema. Goza de relativa ascendência nos meios universitários.
Ex-deputado estadual, eleito pelo Partido Social Progressista, cassado pela
Revolução de março de 1964. Tem influência política em Itapecuru, de onde é natural. Trata-se, porém, de
elemento tímido, bastante sociável e de vida morigerada. Não resta dúvida,
porém, que se trata de figadal inimigo da Revolução. Tem relações estreitas com
o ex-governador José Sarney, gozando também de grande prestígio com o atual
governador Pedro Neiva de Santana. Amississimo de José Tribuzi Pinheiro Gomes(
Bandeira Tribuzi), Vera Cruz Marques e Edson Vidigal. Escreve no Jornal do Dia
a coluna informativa denominada Roda Viva, onde o tema principal é a política.
Atualmente exerce a função de chefe de gabinete da Superintendência de
Desenvolvimento do Maranhão, órgão encarregado de proteger as metas
prioritárias do Governo. Não há dados que possibilitem dizer que esteja o
epigrafado exercendo atividades contrárias aos interesses nacionais.
Francis
Bacon estava certo quando cunhou essa frase: “Nada prejudica tanto uma nação,
quanto o fato de gente astuta passar por inteligente”.