terça-feira, 30 de abril de 2013

MINHA FICHA NO DOPS



O Arquivo Público de São Paulo, no final de março deste ano, passou a disponibilizar em seu site cerca de um milhão de documentos sobre as ações da ditadura militar naquele Estado.
Fichas e prontuários que antes só podiam ser acessados pessoalmente, agora estão ao alcance de um clique.
Os documentos são papéis do Dops – Departamento de Ordem Política e Social, órgão que funcionou de 1924 a 1983 e foi um dos principais braços  do Estado Novo  e da Ditadura Militar, destinado a prevenir e reprimir os delitos contra a segurança do Estado.
Com a volta do país ao caminho democrático, os Dops, subordinados às Secretarias de Segurança dos Estados, começaram a ser desativados e os documentos  entregues aos Arquivos Públicos.
Em 1991, no governo Edson Lobão, o Arquivo Público do Maranhão  recebeu toda documentação que se encontrava nos depósitos da Secretaria de Segurança estadual.
Durante algum tempo, esses documentos ficaram  nas prateleiras do Arquivo Público,  sem que os pesquisadores pudessem vê-los e manuseá-los, pois estavam desorganizados e  dispostos ao arrepio das rotinas técnicas.
Só a partir de 1997,  no governo Roseana Sarney,  aquela ruma de papéis, que parecia imprestável, passou a ser tratada  pelo corpo técnico do Arquivo Público.
Coube às técnicas Maria Helena Espínola e Conceição Rios a incumbência de organizá-los cientificamente, tendo em vista que estavam  mofando e à espera de mãos especializadas, que pudessem dar-lhes um destino adequado.
Por conta do Projeto Memórias Reveladas, a Casa Civil da Presidência da República  e o Arquivo Público Nacional criaram um banco de dados contendo informações dos arquivos participantes e colocar à disposição do público, pela internet, os registros documentais sobes as lutas políticas no Brasil durante a ditadura militar.
O Arquivo Público do Maranhão, como instituição que cuida, zela e preserva a documentação oficial do Estado, integrou-se ao Projeto Memórias Reveladas, por meio do qual organizou e colocou à disposição de pesquisadores e interessados fichas, dossiês, panfletos, recortes de jornais do período militar.
São centenas de documentos que agora podem ser consultados e manuseados, mas, por falta de recursos, ainda não foram digitalizados, impedindo-os  de serem acessados pela internet.  
Eram nos arquivos do Dops que as informações sobre as atividades e ações desenvolvidas pelos políticos maranhenses, antes e na vigência do regime militar, estavam armazenados.  Através deles, os órgãos de segurança do país se alimentavam, dentre os quais o SNI, servindo-se dos mesmos para colocar sob suspeita os que não rezavam na cartilha do movimento de 1964.
Eu, por exemplo, fui cassado pela Assembleia Legislativa, em abril de 1964, sendo acusado levianamente de desenvolver atividades subversivas. Por isso, tinha uma vontade indômita de saber o que pensava o Dops a meu respeito e como via o meu comportamento político, em relação aos atos e fatos, que me levaram a perder o mandato, que recebi do povo de minha terra – Itapecuru, nas eleições de outubro de 1962.
Durante anos, esperei pelo momento de ter em mãos, para guardá-lo como relíquia, a documentação em que as autoridades policiais do Maranhão registraram as ações por mim praticadas, que considero todas democráticas e inerentes ao desempenho livre do mandato popular.     
Quase 50 anos depois, finalmente, pude ver, sem subterfúgios e medo, aquele documento, que esperava, pelo menos, estar bem concatenado, com informações precisas e perto da realidade. Ao contrário disso, o que vi e li em duas folhas de papel foi um relato sintético, sem maiores fundamentações e longe de ser uma peça básica para servir de avaliação da atuação política de cidadãos corretos e idôneos.  
Graças à minha amiga Conceição Rios, que dirige com eficiência, correção e dedicação o Arquivo Público do Maranhão, chegou ao meu poder, depois de longo e tenebroso inverno, a ficha que o Dops imaginou retratar o meu perfil de homo politicus.
Numa folha, estão os meus dados pessoais e profissionais. Em outra, sem assinatura de quem a lavrou ou do chefe do Dops, o que abaixo foi registrado ao meu respeito: Bacharel em Direito. Jornalista. Alto funcionário da Sudema. Goza de relativa ascendência nos meios universitários. Ex-deputado estadual, eleito pelo Partido Social Progressista, cassado pela Revolução de março de 1964. Tem influência política em Itapecuru,  de onde é natural. Trata-se, porém, de elemento tímido, bastante sociável e de vida morigerada. Não resta dúvida, porém, que se trata de figadal inimigo da Revolução. Tem relações estreitas com o ex-governador José Sarney, gozando também de grande prestígio com o atual governador Pedro Neiva de Santana. Amississimo de José Tribuzi Pinheiro Gomes( Bandeira Tribuzi), Vera Cruz Marques e Edson Vidigal. Escreve no Jornal do Dia a coluna informativa denominada Roda Viva, onde o tema principal é a política. Atualmente exerce a função de chefe de gabinete da Superintendência de Desenvolvimento do Maranhão, órgão encarregado de proteger as metas prioritárias do Governo. Não há dados que possibilitem dizer que esteja o epigrafado exercendo atividades contrárias aos interesses nacionais.   
Francis Bacon estava certo quando cunhou essa frase: “Nada prejudica tanto uma nação, quanto o fato de gente astuta passar por inteligente”.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

ÍNDIOS E SARNEY FILHO


Índios de diversas etnias invadiram o plenário da Câmara de Deputados, em protesto contra as propostas que alteram as regras de demarcação de suas terras.
O principal alvo dos indígenas foi uma Proposta de Emenda Constitucional que transfere do Executivo para o Congresso a competência de demarcar essas áreas.
O presidente da Câmara, deputado Henrique Alves, exigiu respeito ao plenário do Congresso e condicionou a negociação com os índios à saída do recinto.
A situação só não chegou ao nível de conflito, por causa da ação oportuna e pacifista do deputado Sarney Filho, que conseguiu que os indígenas deixassem o plenário e o diálogo voltasse a imperar.

ILHA DO AMOR

Foi o maranhense João Sá, no meio artístico conhecido por Claudio Fontana, que criou e chamou São Luís de Ilha do Amor.
Além de cunhar a frase, gravou uma composição musical, com letra de sua autoria, dedicada à cidade que lhe serviu de berço.
João Sá ou Claudio Fontana, porém, não foi lembrado para receber a Medalha dos 400 anos, que o Governo do Estado e a Assembleia Legislativa criaram e outorgaram às pessoas que prestaram relevantes serviços à Ilha do Amor.

RECUPERAÇÃO DE NONATO

O cantor e compositor Nonato Buzar, residente no Rio de Janeiro, acaba de dar uma boa notícia aos familiares e amigos de São Luís.
Conseguiu recuperar-se de um problema de próstata e está pronto para retomar sua carreira artística.
Nonato promete vir a São Luis em maio para receber das mãos da governadora Roseana Sarney a medalha dos 400 anos a ele conferida, ano passado, que não recebeu devido ao seu precário estado de saúde.

CASAS PARA ALUGAR

Os bairros Renascença I e II, localizados no São Francisco, estão deixando de ser residenciais.
Nos últimos tempos, cresce o número de casas à venda, aquecendo assim o mercado imobiliário.
Por falta de segurança, as casas foram trocadas por apartamentos, nos quais as pessoas ficam mais protegidas e menos sujeitas aos assaltos, cada vez mais freqüentes e violentos.
As casas residenciais, antes ocupadas pela classe média alta de São Luís, estão se transformando em escritórios de advogados, médicos, dentistas e engenheiros.

FRADES CAPUCHINHOS

A Província dos Frades Capuchinhos Nossa Senhora do Carmo, em agosto, vai completar 400 anos de presença no Norte e Nordeste do Brasil.
Os carmelitas, que chegaram a São Luis ainda nos tempos coloniais, vão sair da clausura para festejar a efeméride, com a realização de uma programação solene.
Como são vizinhos da Academia Maranhense de Letras, já pediram ao presidente Benedito Buzar o auditório da instituição, onde pretendem entregar aos maranhenses medalhas comemorativas.

COMISSÃO DE ORÇAMENTO

O senador Edson Lobão Filho foi eleito presidente da disputada Comissão Mista de Orçamento.
A eleição de Edinho derrubou uma tradição vigente no Congresso Nacional, a de que suplente não pode presidir as comissões parlamentares.
Um parecer jurídico acabou com a questão, que há tempos vigia no Congresso, de que suplente pode exercer todas as funções no exercício do mandato.

POSSE NA PRESIDÊNCIA

Amanhã, é um dia muito especial para o senador José Sarney.
Há 27 anos, ele, assumia definitivamente o cargo de presidente da República, depois do país viver um terrível drama, cujo desfecho deu-se com a morte de Tancredo Neves.
No seu discurso de posse, Sarney disse uma frase poética que ficou gravada no pensamento da população brasileira: “Com os olhos de ontem, chego à presidência da República”.
No seu governo, cumpriu uma meta que só um político conciliador poderia concretizar: a transição da ditadura para a democracia sem traumas.

TOMATE MARANHENSE

Afirma revista Veja que o tomate virou grande símbolo do desconforto e da apreensão dos brasileiros com a volta da inflação.
O governo pisou na bola ao apontar o tomate como um dos responsáveis pela alta de preços nos supermercados nos três primeiros meses do ano, com o quilo do fruto vendido a dez reais.
Em São Luís, o tomate não pode ser acusado pela volta da inflação. Nos supermercados da cidade, o fruto está caro, mas ainda não passou dos quatro reais.

TENOR ITAPECURUENSE

Um jovem de Itapecuru está fazendo sucesso em São Paulo, ao apresentar-se num programa da TV Record- Got Brazil Talent, semelhante ao The Voice, da TV Globo
Seu nome: Silas Gomes. Sua voz de tenor vem encantando os que já tiveram o privilégio de ouvi-lo cantar músicas clássicas.
Já passou por duas seletivas e cada vez que solta a voz deixa os julgadores do programa de boca aberta.
O conterrâneo de Silas, Benedito Buzar, em 2012, o trouxe para abrilhantar a festa de confraternização dos servidores da Universidade Federal do Maranhão. Ele deu um show e foi aplaudido de pé.

EMOÇÕES FORTES

O intelectual Benedito Buzar, como diz a musica de Roberto Carlos, chorou, sorriu e viveu fortes emoções em Itapecuru.
Tudo aconteceu, na semana passada, quando recebeu na Câmara Municipal de sua cidade natal significativa homenagem, pelo ato da Assembleia Legislativa que devolveu simbolicamente o mandato que havia perdido em abril de 1964.
Além dos discursos laudatórios à sua pessoa, proferidos por todos os vereadores e por um representante da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes, a Câmara ainda brindou o homenageado com uma placa, em lugar de honra no plenário.

PALMAS A MARCELO

A sociedade maranhense ficou pasma ao saber de um fato político, ocorrido em 2009.
Dele foram protagonistas o ex-governador Jackson Lago e o deputado Marcelo Tavares. O primeiro solicitou ao segundo, então presidente do Poder Legislativo do Maranhão, para não dar posse à governadora Roseana Sarney, beneficiada pelo julgamento do TSE, que havia cassado o mandato de Jackson.
Imagine-se a confusão política e jurídica que teria acontecido em São Luís, caso Marcelo Tavares desse ouvido ao pedido de Jackson?
Até uma intervenção federal no Maranhão poderia vir à tona.   

segunda-feira, 15 de abril de 2013

O ITAPECURUENSE ZUZU NAHUZ


Dias atrás, recorri ao exercício da memória na tentativa de encontrar ou descobrir um itapecuruense que devote a terra onde nasci um desvelo tão forte quanto o meu.
Considero-me um itapecuruense profissional, só para lembrar o escritor Josué Montello quando se referia a São Luís. Não consigo  esquecer o meu torrão natal. Esteja onde estiver, fora ou dentro do Brasil, a passeio ou a serviço, as lembranças de minha infância e adolescência, ali vividas, continuam presas no meu pensamento.  Daí o meu espanto quando vejo pessoas que desprezam a terra em que nasceram e a ela não dedicam nenhum apreço.
 Aprendi a amar o Itapecuru mercê dos exemplos legados por meu pai-Abdala Buzar, que, em vida, como homem público ou empresário, fez tudo pela terra aonde chegou recém-nascido, conquistou o registro civil, construiu família e tornou-se digno da admiração e da estima do povo.
Feitas essas considerações, uma revelação  se impõe como resultado de uma longa e  sensata reflexão: esse carinho desmesurado que devoto a Itapecuru só tiro o chapéu para a figura humana de Raimundo Nonato Coelho Nahuz, que se tornou conhecida por Zuzu Nahuz.
Seja como redator dos jornais  O Combate e A Tarde,  seja como dono  do Correio do Nordeste, Zuzu  deixou farta e preciosa documentação sobre a terra em que nasceu, evocando-a em suas  crônicas e artigos as coisas, os fatos, os eventos, os  acontecimentos e as pessoas de Itapecuru.
Tenho em meu poder mais de cem cópias dessas crônicas,  nas quais  fazia comentários e discorria sobre episódios factuais de Itapecuru, nas décadas de 1930 e 1940, quando ali morou em companhia dos pais e irmãos.  Toda essa produção jornalística foi conseguida na Biblioteca Pública do Estado do Maranhão, quando eu fazia pesquisa e recolhia subsídio para escrever o esgotado e sempre procurado – O Vitorinismo.  
Estes artigos, que  mostram também a privilegiada memória de Zuzu,   estão guardados, conservados, revisados e digitalizados,  à espera, prioritariamente, de  um órgão público ou de um prefeito de Itapecuru,  que se sensibilize e autorize a publicação. Mas se não encontrar quem o faça, prometo que, até antes de viajar para a cidade dos pés juntos, eu darei este presente às novas gerações itapecuruenses.
Para quem não conheceu pessoalmente Zuzu, convém esclarecer que as crônicas foram escritas após ele ter perdido a visão. A esse respeito,  em artigo publicado no Correio do Nordeste, de 15 de abril de 1962, intitulado “Sentença Inexorável”,  confessa, de maneira triste, mas realista,  como  começou o processo que fez os seus olhos deixarem de brilhar e de ver a luz do dia: “O calendário marca 16 de março de 1930, são 10 horas da manhã. Estou em pleno “Colégio Magalhães de Almeida”, na Rua do Egito, na legendária Itapecuru-Mirim. Chega a minha vez para a aula de leitura no livro “Nossa Pátria”, de Rocha Pombo. Nada pude fazer, infelizmente. Surgia diante de mim, o fantasma da cegueira! As letras fugiram dos meus olhos e eu de cabeça baixa disse ao saudoso professor Oliveira Roma: Não estou enxergando nada. Não sei o que há comigo. De repente, as lágrimas correram impetuosas pelo meu rosto. Fui acometido de uma crise nervosa”.
O relato de Zuzu é longo e impede-me de transcrevê-lo na íntegra.  Mas diz que, no dia seguinte ao seu drama, em viagem de trem, acompanhado dos pais, veio para São Luís, onde foi assistido pelos médicos Carlos Macieira, Tarquínio Lopes Filho, Vieira de Azevedo e Pinheiro Costa, que aconselharam o comerciante Sadick Nahuz a  levar o filho para o Rio de Janeiro.
Na Cidade Maravilhosa chegaram, depois de uma viagem de navio,  em julho de 1930.  Zuzu foi consultado pelos melhores oftalmologistas do país, Gabriel Andrade Abreu Fialho e Moura Brasil, que nada puderam fazer diante do diagnóstico já evidenciado pelos médicos maranhenses: atrofia do nervo ótico, com origem sifilítica hereditária.
Zuzu, anos depois, ainda tentou recuperar parcialmente a visão, mas a cirurgia, realizada no Rio de Janeiro, foi em vão. Mesmo sem a capacidade de ver as coisas, por ser talentoso e arguto, abraçou a atividade jornalística. Nas redações por onde passou, mantinha uma coluna diária, sob o título de “Rosa dos Ventos”.
Ninguém melhor do que Lago Burnett para definir o jornalismo praticado por Zuzu Nahuz. Por isso, dedicou-lhe bela crônica, publicada no Jornal do Brasil, em 22 de junho de 1973. Dela extraio esta frase verdadeira e sincera: “Zuzu era um dos melhores sujeitos que já conheci. Só tinha um defeito para o exercício do cargo. Era cego. Mas compensava essa deficiência com o aprimoramento da memória”.  Assino em baixo.