BENEDITO
BUZAR
Minhas
relações pessoais e políticas com Neiva Moreira começaram no final dos anos
1950, no Rio de Janeiro, então capital da República, onde eu estudava para
habilitar-me ao vestibular e ingressar numa faculdade de nível superior, e ele,
cumpria o seu segundo mandato de deputado federal, pelo Partido Social
Progressista.
Nossas conversas tinham por palco o Palácio
Tiradentes, onde funcionava a Câmara Federal, e giravam, obviamente, sobre
política nacional e regional. Ele, àquela altura da vida, já pontificava no
Congresso Nacional pelas suas posições nacionalistas e pelo modo como defendia
as causas dos excluídos, sem deixar de lado as lutas travadas no Maranhão, como
jornalista e parlamentar, contra o domínio do Partido Social Democrático, que
considerava obstáculo à chegada ao poder estadual das Oposições Coligadas,
formadas desde a redemocratização do país para combater o vitorinismo.
Em 1960,
logrei êxito no vestibular à Escola de Agronomia, da Universidade Rural, mas não
consegui ajustar-me ao curso, razão pelo abandonei-o com intenção de voltar ao
Maranhão e estudar Direito, tendo como alvo a vetusta Faculdade da Rua do Sol.
Neiva, com o
qual estreitara as relações de amizade, percebendo a minha inclinação para a
política, passou a catequizar-me a ingressar na vida pública, filiar-me ao
Partido Social Progressista e candidatar-me a deputado estadual, aproveitando o
fato de o meu pai, Abdala Buzar Neto, ser o prefeito de Itapecuru e dotado de
forte liderança popular no município.
Antes de
retornar a São Luís, por iniciativa e empenho de Neiva, estagiei alguns meses
no jornal “A Luta Democrática”, propriedade do deputado carioca, Chagas
Freitas, do PSP, preparando-me assim para integrar o corpo redacional do Jornal
do Povo, como de fato veio acontecer.
Deixei os
encantos do Rio de Janeiro no final de 1961, trocando o que de bom e bonito a
Cidade Maravilhosa oferecia, por São Luís, onde tratei de materializar dois
projetos: passar no vestibular da Faculdade de Direito e convencer o meu
genitor de apoiar a minha candidatura à Assembleia Legislativa às eleições de
outubro de 1962.
O primeiro
projeto foi facilmente conquistado. O segundo, porém, foi complicado, pois exigiu
tenacidade e habilidade para contornar a resistência paterna, tendo em vista o seu
compromisso político com o PSD de Vitorino.
A legislação
eleitoral da época, omissa quanto à fidelidade partidária, possibilitou o
encontro de um acordo e avalizado por Neiva Moreira: ele abria mão dos votos de
Itapecuru à sua reeleição desde que eu fosse o candidato a deputado estadual
pelo PSP.
Realizadas
as eleições, fomos vitoriosos. A sua reeleição para a Câmara de Deputados foi
penosa e problemática. De um lado, a forte e irresistível campanha movida por
setores empresariais e segmentos ligados ao catolicismo maranhense que o
acusavam, pela sua participação nas lutas pelas reformas de base, de comunista
e inimigo da igreja. De outro, seu posicionamento no pleito de 1960, quando não
apoiou a candidatura de Ademar de Barros à presidência da República, optando
pelo engajamento, por questão ideológica, ao movimento nacionalista em favor do
marechal Henrique Lott, candidato do PSD.
Em 1963,
assumimos os mandatos parlamentares. Enquanto Neiva continuava, no Congresso
Nacional, a tomar posições arrojadas e firmes, como integrante da Frente
Parlamentar Nacionalista, em prol de mudanças econômicas e sociais no país, eu,
fazia parte de um grupo de 13 deputados que, na Assembleia Legislativa do
Maranhão, dava combate frontal ao sistema político vigente e ao governo
estadual.
Com a
deflagração no país do movimento político-militar, em abril de 1964, que soterrou
as conquistas democráticas e expulsou do poder os que lutavam pelas reformas
estruturais, Neiva Moreira, depois de cassado, perseguido e preso, foi obrigado
a deixar o Brasil e exilar-se em diversos países da Europa e da América Latina,
nos quais, com denodo e sacrifício, continuou a defender os ideais que abraçara.
Seu retorno ao
Brasil ocorreu em 1979, beneficiado pela Lei da Anistia. Ao voltar, decidiu retomar sua militância
político-partidária no Maranhão, aliando-se a Jackson Lago na organização do
diretório regional do PDT, pelo qual disputou o pleito para a Câmara Federal em
1982.
Em outubro
de 1997, quando completou 80 anos de vida, resolvi homenageá-lo com a
publicação de um livro, cuja matéria prima era a sua produção jornalística.
Para isso, tive o prazeroso trabalho de pesquisar, na Biblioteca Pública
Benedito Leite, as edições diárias do Jornal do Povo. Nessa garimpagem de 15
anos de seu trabalho jornalístico, selecionei 100 artigos que me pareceram os
mais adequados à realidade maranhense e invariavelmente escritos com discernimento,
competência e paixão pela terra em que nasceu.
Neles, Neiva Moreira, além de evidenciar a sua
qualidade de primoroso redator, apontava, como se fosse um profeta, as soluções
para os problemas do Estado e desta cidade, dentre outros, as construções da
Ponte do São Francisco, da Barragem do Bacanga, da Hidrelétrica de Boa
Esperança, do Porto do Itaqui, da instalação da Universidade Federal do
Maranhão e da autonomia política e administrativa de São Luís, que, anos depois,
se transformaram em realidade pelo governador José Sarney.
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