sexta-feira, 22 de julho de 2011

CINEMA, ALTO-FALANTE E JORNAIS DE ITAPECURU



BENEDITO BUZAR


A inauguração da eletricidade em Itapecuru, ocorrida no final de 1948, desencadeou uma acentuada modificação no cotidiano da população, especialmente no campo do entretenimento e dos meios de comunicação.

O prefeito Miguel Fiquene, a quem a urbe itapecuruense era grata pela introdução no município da energia elétrica, foi o primeiro a sentir o momento de a cidade, mercê dessa importante ferramenta de progresso, contar com outras opções de lazer e novos meios de comunicação.

Partiu dele, portanto, como homem público e empresário de visão, a iniciativa de arregimentar esforços para transformar o cenário da terra que lhe deu um mandato popular, àquela altura dos acontecimentos, necessitada de mudar sua rotina de vida.

CINE MARÍLIA

Com esse objetivo, Miguel Fiquene tomou a oportuna e feliz decisão de criar a Empresa Marília Ltda, com a finalidade de dotar Itapecuru do serviço de alto-falante e de cinema. Com respeito ao serviço de alto-falante, a população da cidade já o conhecia e sabia da força daquele meio de comunicação social, graças à iniciativa de outro comerciante da cidade, Abdala Buzar Netto, que, na época da festa de São Benedito, para animá-la, dava-se ao trabalho de trazer “A Voz Pindorama”, da paróquia de Coroatá.

Sobre cinema, como arte, ainda era uma grande incógnita para a maioria da comunidade. Algumas pessoas conheciam as salas de projeção de São Luís.

No dia 5 de março de 1950, a população de Itapecuru acordou alegre e sob forte expectativa. Motivo: Miguel Fiquene inaugurava, festiva e pomposamente, a empresa Marília Ltda, com a responsabilidade de dar à cidade um serviço de alto-falante e um equipamento para projetar fitas de cinema. Ao primeiro, deu o nome de Voz Marília; ao segundo, Cine Marília.

À falta de prédio próprio e destinado ao funcionamento do cinema e do serviço de alto-falante, ainda em fase de construção na Avenida Gomes de Sousa, onde é hoje o Banco do Brasil, o Cine Marília começou a funcionar provisoriamente na residência do irmão do proprietário, Wady Fiquene, estabelecido na Rua do Egito. O espaço reservado para exibição de filmes era uma longa varanda, onde ficavam os assistentes, sentados em cadeiras domésticas. O equipamento cinematográfico ficava num lugar destacado, no final da varanda. A Voz Marília, também, por se ressentir de espaço adequado, foi instalada numa sala onde morava o dono do empreendimento, na Rua do Sol.

Os filmes eram exibidos quatro vezes por semana, sempre à noite. Aos domingos, aconteciam as vesperais. Exibiam-se filmes de 18 milímetros das conceituadas companhias americanas Metro Gold Mayer e Warner Bros. Um clássico do cinema americano, “Sargento York”, protagonizado pelo artista Gary Cooper, inaugurou o Cine Marília. A população compareceu em peso. Os ingressos eram vendidos a preços acessíveis. A curiosidade era tão grande que muita gente, pela falta de acomodação, sentava no chão. Os equipamentos eram manipulados pelos jovens José Domingos e Nonato Araújo, que, para tal fim, receberam treinamento especial.

OS ALTO-FALANTES

O serviço de alto-falante, amplificado através da Voz Marília, entrava no ar em dois horários: das 11 às 13 horas e das 17 às 21 horas. Ao longo da programação, comandada pelos locutores Renato Oliveira, José Metre e João Batista Nogueira, eram transmitidas notícias diversas, atos oficiais e informações de interesse da comunidade. Grande parte do faturamento do serviço de alto-falante provinha da veiculação de propaganda comercial e das mensagens musicais, em que os ouvintes prestavam homenagem aos aniversariantes e amigos, dedicando-lhes canções gravadas em discos vinil.

No rastro dessas inovações tecnológicas, que se transformaram em coqueluche e deram à cidade um sopro de modernidade, mais dois serviços de alto-falantes foram posteriormente instalados em Itapecuru.

Em 29 de abril de 1950, portanto, um mês após a inauguração da Empresa Marília Ltda, o comerciante Abdala Buzar Netto, adquiria e doava para a paróquia de Nossa Senhora das Dores uma amplificadora com o nome de Voz Paroquial São Benedito, para divulgar informações católicas e animar as festas de largo promovidas pela igreja. O estúdio da amplificadora ficava no interior da igreja, nas dependências da sacristia. Com dois alto-falantes, colocados na torre da matriz, a Voz Paroquial funcionava em horários matutino e vespertino. Para que fosse ao ar durante o dia, Abdala comprou também um pequeno gerador de energia. O primeiro locutor da Voz Paroquial chamava-se A. da Costa, mais tarde, substituído por Edmar Bezerra. Para mantê-la, os fiéis colaboravam com pequenas quantias advindas das mensagens musicais.

No alvorecer de 1951, o professor João Rodrigues informava à população de que mais um serviço de alto falante seria instalado na cidade. Para isso, fundara a Organização Radiofônica Voz do Comércio, que comprara em São Paulo, equipamento, modelo Philips, do qual faziam parte toca-discos, microfones e quatro alto-falantes.

Dias depois, ele anunciava a inauguração da Voz do Comércio, em 9 de março de 1951. A comunidade tomou conhecimento da chegada da amplificadora por meio de intenso foguetório. O estúdio foi montada na residência do proprietário, na Praça Gomes de Sousa, onde também se instalaram os alto-falantes. Para dirigi-la, João Rodrigues convocou o filho Antônio Olívio, jovem e brilhante intelectual, que teve a desdita de morrer prematuramente.

A Voz do Comércio e a Voz Marília, por pertencerem a políticos militantes, transformaram-se também em instrumentos partidários. Por ocasião das campanhas eleitorais, veiculavam propaganda e mensagens dos candidatos e políticos.

Na área da comunicação social, a população itapecuruense voltaria a ter dias de contentamento e vibração, em abril de 1969, por conta de outra iniciativa do então prefeito João Rodrigues.

Autorizado pela Câmara Municipal, a prefeitura instalou na Praça Gomes de Sousa um aparelho de televisão, para que parte da comunidade, não dotada de suficiente poder aquisitivo, assistisse aos programas veiculados pela TV Difusora, do grupo Bacelar. Um pequeno compartimento foi levantado na praça para guardar o televisor, que funcionava das 19 às 22 horas e ativado por um servidor municipal.

OS PRIMEIROS JORNAIS

João Rodrigues, além de emérito professor e dono de uma instituição de ensino - o Instituto Rio Branco, que educou várias gerações, prestou relevantes serviços ao município no campo da comunicação social. Deve-se a ele também o gesto pioneiro da fundação em Itapecuru, nos meados da década de 30, do século passado, de um pequeno jornal, mas valioso pelas informações a respeito de pessoas e fatos da cidade. Intitulado de A Gazeta, circulava com as dificuldades inerentes da época. O jornal era feito pelo sistema tipográfico. A oficina funcionava na Rua do Egito. Com o advento do Estado Novo, que passou a censurar a imprensa, vieram à tona outras dificuldades para os jornais do interior, destacando-se a carência de papel e as perseguições políticas contra os que não rezavam na cartilha dos novos detentores do poder. Para não sofrer dissabores e malquerenças, João Rodrigues foi obrigado, em 1937, a encerrar as atividades de A Gazeta.

A volta do país ao regime democrático, fez com que ele novamente entrasse em ação. Com obstinada determinação, decidiu fundar outro jornal, através do qual continuaria a defender suas idéias políticas e seus princípios partidários, que se materializaram com as conquistar de um mandato de vereador e de prefeito, cargo que ocupou duas vezes.

Com efeito, em dezembro de 1946, ganhava as ruas da cidade o jornal O Trabalhista, em homenagem ao ex-presidente Getúlio Vargas, fundador do PTB, partido ao qual João Rodrigues se filiou e passou a ter participação ativa no cenário político de sua terra. O Trabalhista, assim como A Gazeta, adotava uma linha crítica com relação aos administradores municipais. Salvo melhor juízo, o último número do jornal circulou no começo de 1952.

Quando O Trabalhista surgiu o processo tecnológico usado na montagem de jornais ainda era o mesmo da época de A Gazeta: a tipografia. Um profissional se encarregava de fazer tudo, excetuando-se os textos, estes, produzidos em manuscritos ou em máquinas de datilografia por jornalistas amadores.

O semanário itapecuruense circulava semanalmente com quatro páginas. Em casos excepcionais, chegava a seis, onde registravam-se notícias diversas da cidade, com ênfase aos assuntos políticos, tendo em vista que nas veias do proprietário corria o sangue do partidarismo.

BENEDITO BUZAR, JORNALISTA, MEMBRO DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS.

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