Descendo
tanto pelo lado paterno como do materno de famílias essencialmente católicas
apostólicas romanas. Do meu nascimento até certo tempo de minha vida adulta só
deparei-me, em matéria de religião, com os ensinamentos emanados da doutrina do
cristianismo. Em minha casa, na cidade em que vim ao mundo, nos colégios em que
estudei e por onde andei e construí a minha atividade profissional, não tive
outra orientação religiosa que não a inspirada no catolicismo.
No meu currículo de católico, pontificam estas
singularidades: 1) Após quatro meses do meu nascimento, em 17 de fevereiro, fui
batizado em 02 de julho, em Itapecuru Mirim, na igreja-matriz de Nossa Senhora
das Dores, em cerimônia conduzida pelo saudoso padre Alfredo Bacelar, portanto,
dentro do figurino da igreja de São Pedro.
2) Depois de batizado, ainda criança, fui
crismado pelas bênçãos do cristianismo. 3) Para aprender e seguir os preceitos
e as regras bíblicas, como rezava a tradição e a época, também recebi aulas de
catecismo na igreja de Nossa Senhora das Dores, proferidas por membros das
congregações religiosas.
4) No
colégio no qual fiz o primário - Grupo Escolar Gomes de Sousa, em minha terra,
e depois no Colégio dos Irmãos Maristas, em São Luis, onde concluí o curso
ginasial, a cartilha era a mesma: rezar e ouvir aulas de religião. Nos Maristas, sob o regime do internato, rezava
antes e depois de dormir, de tomar café, de almoçar e jantar, sem esquecer as
missas diárias e os terços que faziam parte das jornadas educativas.
5) Na minha adolescência,
o meu pai, Abdala Buzar, um católico de carteirinha e um assumido serviçal da
igreja e do clero, compelia-me a funcionar como coroinha nas celebrações
litúrgicas, em que me apresentava com vestes semelhantes a uma batina, mas de
cor avermelhada.
Por falar no
meu pai, não custa nada ressaltar as ações desenvolvidas por ele em Itapecuru,
em favor da Santa Madre Igreja. No livro, “No tempo de Abdala era assim”, para
celebrar seu centenário de nascimento, focalizei essa faceta de sua
personalidade, uma das mais visíveis e elogiadas até hoje pelo povo
itapecuruense: a devoção a São Benedito, fato que o levava a organizar e bancar
o festejo em homenagem ao santo de sua predileção, que se realizava de 28 de
dezembro a 1º de janeiro.
6) Para
coroar toda essa influência do catolicismo, sempre presente em minha vida, não dá
para olvidar a celebração do meu casamento, a 18 de novembro de 1967. Para ministrar o sacramento de minha união
com Solange, que considero o passo mais acertado dado por mim ao longo da
existência, fui atrás do monsenhor Ladislau Papp, um sacerdote húngaro que fez
de São Luis sua segunda terra. Foi ele que na, igreja de São João, fez com que
eu prestasse o juramento de ficar ao lado de Solange, em qualquer
circunstância.
Mas o que
aconteceu anos depois, já na fase adulta, para que me afastasse dos ofícios
religiosos, logo eu que carregava um invejável currículo de católico apostólico
romano? Por que eu, um fidedigno
assistente de missas dominicais, cultor resignado das obrigações ditadas pela
igreja, dentre as quais a de confessar, comungar, respeitar os dogmas e cumprir
os rituais e a liturgia pregados pelos seguidores de Cristo, de repente,
esquecesse tudo isso para só comparecer às celebrações eucarísticas em
atendimento a compromissos estritamente sociais?
A minha resposta
é igual à de milhões de católicos, que, nos últimos tempos, abandonaram a Santa
Madre Igreja. Dessa numerosa legião de desertores, muitos ficaram apáticos a
qualquer tipo de religião e outros tantos abraçaram os cultos mistificadores ou
aderiram a seitas radicais e nada exemplares, decepcionados com o comportamento
dos representantes da igreja, que deixaram de lado as suas obrigações pastorais,
ou ficaram frustrados pela maneira de agir de seus oráculos, que abandonaram os
humildes, os pobres, os perseguidos, os menos favorecidos, passando a defender
a causa dos que aviltaram as lições de amor legadas por Cristo à humanidade.
Mas para
reverter esse quadro de descrença e desesperança, Deus lembrou-se de que na
América Latina, região de tanta pobreza, sofrimento, analfabetismo,
subdesenvolvimento, injustiça social e corrupção política, havia um Homem, seu
servo, que se chamado para ajudar a corrigir essas desigualdades sociais e
econômicas e colocasse a igreja novamente no caminho certo e reencontrar-se com
os postulados de Cristo, com toda a certeza ele cumpriria a missão de modo
competente e seria bem compreendido e entendido pelo povo.
Essa figura abençoada
era o arcebispo de Buenos Ayres, Jorge Bergoglio, que para suceder ao papa
Bento XVI, foi eleito novo representante de São Pedro. À frente do Vaticano, em
pouco tempo de vicariato, vem mostrando que fará uma grande mudança no universo
do catolicismo.
Este novo
Papa, com o nome de Francisco, esteve recentemente no Brasil, para participar
de mais uma Jornada Mundial da Juventude, realizada no Rio de Janeiro, local
das reuniões e concentrações evangélicas. Ali, pregou com sua humildade,
simplicidade, honestidade, sinceridade e autenticidade uma nova mensagem de
esperança para os povos que ainda continuam a viver dias de sofrimento e abandono.
Foi esse
papa Francisco, que voltou o seu olhar para os jovens e os idosos e deixou o
pedestal de Roma para reanimar a Igreja do mundo inteiro, que mexeu sobremodo
comigo, operando em mim uma profunda reflexão, através da qual eu voltasse a
repensar o cristianismo como uma saída para a crise em que vivemos.
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