Quem melhor
e, com mais propriedade, escreveu sobre a vida e a obra de José Bento Nogueira
Neves foi a sua querida e amada esposa, Maria Thereza.
Ela o fez
por meio do livro intitulado “Minha Árvore”, lançado em 2006, quando José Bento
já enfrentava o ataque de uma doença degenerativa, que o levou ao sofrimento físico e posteriormente, diria o
poeta Drumond, a ficar encantado, na tarde de sexta-feira, dia 21 de setembro
de 2012, exatamente 10 dias após completar 85 anos.
Não sei se José Bento chegou a ler o livro,
feito com tanto ternura e amor por Maria Thereza, que ao longo de 137 páginas e
ilustrado, tratou de contar fatos importantes sobre a vida do casal.
Se leu deve
ter ficado feliz e satisfeito com os relatos ali registrados, todos repletos de
inexcedíveis toques de verdade e de carinho, pela mulher que escolheu para
companheira, esposa e amiga e com quem viveu intensamente momentos de alegria e
de tristeza.
No livro, Maria
Thereza, sem pieguice, revela como conheceu, namorou, noivou e casou com José Bento e com ele construiu uma família unida, enriquecida e
fortalecida com o nascimento de quatro filhos: Raphaela, Eugênia, Virgínia e
Rodrigo, todos bem encaminhados na vida.
Oriunda da
família de intelectuais maranhense, do quilate dos tios-avós Arthur e Aluísio, filha
de Emílio e irmã de Américo, todos Azevedo, não escapou da sua apreciação literária
e sentimental, os 50 anos de convivência
com José Bento. Nesse particular, realça, com fidelidade e emoção, os tempos em que o marido, em função das
atividades advocatícias, conquistou fama
e prestígio, por sua competência e conduta ética. Também não omite os caminhos percorridos
por ele na cena pública. No Poder Executivo, ocupando cargos importantes; na
Assembleia Legislativa, no exercício do mandato popular, desempenhando-se com altivez e dignidade, razão pela qual foi
perseguido por defender a causa dos lavradores e preso após a deflagração do
movimento militar, em 1964.
Eu nasci na
mesma cidade em que José Bento veio ao mundo: Itapecuru. Cronologicamente mais novo, não fiz parte da
geração de itapecuruenses, formada por ele, Ribamar Fiquene, José Fonseca,
Nonatinho Araújo e Nonato Buzar. À exceção do último, todos já falecidos. Lembro-me
de tê-los vistos, com o meu olhar ainda de criança, em festivas brincadeiras de
rua, cantorias e correndo atrás da bola no antigo campo de futebol - o
Itapemirim, onde José Bento, já com problemas de visão, jogava de óculos.
As nossas
famílias mantinham relações de amizade bem aproximadas, até porque moravam em ruas vizinhas. Os Buzar, na Rua do
Egito, e os Nogueira da Cruz, na Rua do Sol. Meu pai, Abdala, era compadre dos
pais de José Bento - Dona Sinhá e o professor Newton Carvalho Neves, este, com
uma folha de relevantes serviços educacionais prestados à cidade, como dono e
professor do Instituto Rio Branco. Maria
Rafinha e José Trajano, irmãos mais jovens de Bento, foram meus colegas de
turma. Ela, no Grupo Escolar Gomes de Sousa, ele, no Liceu Maranhense.
Anos mais
tarde, passei a conhecer mais de perto o advogado e o político. Nas lides
jurídicas, lembro-me dele nas eleições municipais de prefeito de Itapecuru, em
1950, quando assumiu a causa do candidato João da Silva Rodrigues, que vencera o
pleito, mas não tomou posse, porque o Tribunal Regional Eleitoral determinou a
realização de pleitos suplementares. Ainda permanece na minha memória, o show
de oratória e de conhecimentos jurídicos de José Bento, nos anos 60, no
julgamento do crime que levou à morte o jornalista Otelino Nova Alves.
De suas lutas políticas, recordo-me quando se
candidatou pela primeira vez, em 1958, às eleições para a Assembleia
Legislativa, e como filho de Itapecuru, obteve expressiva votação pelo apoio
das lideranças locais. No pleito de
1960, voltava ele a atuar na política itapecuruense, desta feita, apoiando a
candidata Graciete Cassas, do PSD, à prefeitura do município, sendo derrotada
por meu pai, que se candidatou pelas Oposições.
Em 1962,
agora era eu que disputava com José Bento a preferência do eleitorado de
Itapecuru, nas eleições de deputado estadual pelo mesmo partido – o PSP, tendo
em vista que ele rompera com o PSD vitorinista. Naquele pleito, ele não
conseguiu se reeleger, pois teve contra si toda a força da máquina governista.
Em abril de
1964, eu, no exercício do mandato legislativo, e ele, na suplência, fomos
vítimas da mesma truculência política, que, no bojo do golpe militar, deu
ensejo a toda sorte de vinganças e de represálias perpetradas pelos donos do
poder.
Ao terminar essas
considerações, evoco novamente o encantador livro de Maria Thereza, que, do
começo ao fim, esmiúça em detalhes e na plenitude da paixão, a longa e bonita trajetória
de vida edificada ao lado de seu inesquecível e idolatrado José Bento Nogueira
Neves.
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